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Crônica 9

Eu encontrei Laura em um bar há uma semana, “por puro acaso” eu disse, mas era mentira já que eu usei todos os meus amigos pra saber onde ela estava pra eu estar lá também. Conversando sobre a nossa única noite de amor, com ela me contando coisas das quais eu não lembrava, fingindo vergonhas e arrependimentos, ela me pareceu mais encantadora e linda do que nunca. Meu coração batia rápido, muito rápido. Meus dedos tremiam segurando o cigarro, foi dificil disfarçar a voz tremida e o suor, mas eu era experiente em coisas assim. Uma vez ou outra, durante essa semana, deixei escapar um flerte exagerado, uma jura ou uma promessa que eu realmente pretendia cumprir e gaguejei e hesitei diante de oportunidades de beija-la, coisas que definitivamente não eram o meu feitio. Aquele não era eu! Aquele era alguma coisa, algum garoto inseguro, alguém inocente, coisa que eu não era, mas mesmo assim, mesmo assim, meu coração batia mais rápido do que eu podia acompanhar.

Mas ainda assim, eu desinteressadamente marquei encontros com ela, fui um pouco frio, não lhe dei espaço pra que se sentisse muito a vontade, e a instiguei a perguntar coisas sobre mim, tudo isso usando de muita força de vontade, que eu nem achei que tivesse.
Agora estou aqui uma semana depois do nosso reencontro e ela se abriu pra mim, deixando cair a máscara de “garota que não se deixa atingir”. Eu fui mais forte, não que isso importasse. Não importa. Não importa nada, mesmo.
Logo depois que ela se abriu, eu me abri, disse que eu gostava dela, que eu gostava dela como nunca havia gostado de outra pessoa. Não ache que isso foi romantico da minha parte, eu fiz isso com um cigarro na boca e sem olhar pra ela, distante e receoso.
Uma pequena guerra de argumentos se seguiu.
Ela disse que não queria ser salva, não era esse tipo de garota, eu disse que não estava ali para salva-la. Ela disse que esperava que eu salvasse e fez uma cara de triste, eu disse que eu a salvaria, ela disse que eu não entenderia, eu disse que ela também não entenderia. Eu acendi outro cigarro, vagarosamente, enquanto ela explicava que não queria nada sério, e eu só respondi: então por que está aqui? Ela ficou muda.
Eu joguei fora o cigarro e me aproximei dela e Deus, como isso foi dificil, eu segurei suas mãos e ela pode perceber que as minhas tremiam, eu disse que eu a queria, ela disse que não sabia o que fazer.
“Vem comigo, pra minha casa” eu disse. Ela veio.